FALATÓRIOS

AmaZonas: A Psicanálise de A a Z

Resumo

Neste livro, que transcreve seu Falatório de 2006, MD Magno toma a idéia de AmaZonas como metáfora para falar da psicanálise de A a Z, e para situá-la “no concerto, ou desconcerto, das ditas terapias de curas contemporâneas e teorias adjacentes”. A tese de fundo é: “a função da psicanálise é a consideração do Inconsciente e pode acolher todos os saberes que funcionem para isto”.

Em continuidade à concepção da psicanálise como Clínica Geral, já colocada nos anos 1980, explicita-se agora sua vocação de verdadeira bacia amazônica capaz de acolher em sua orografia todos os discursos que lhe interessarem, desde que apropriados e submetidos a seu modo próprio de uso. Enfatiza-se assim o específico da postura do analista: receptividade plena, podendo usar técnicas de qualquer saber como ferramentas disponíveis.

No exercício desta Psicanálise AmaZônica, o autor aperfeiçoa, entre outros, o conceito de Pessoaque apresentara dois anos antes. A Pessoa também tem essa vocação de pleno acolhimento, uma vez que é pensada como rede composta de inúmeros nós, os quais podem ser considerados como pólos abordáveis focal e franjalmente. Uma Pessoa, que se chama de Eu, é um pólo singular, mas com implicações infinitas, pois não há como saber onde termina a franja que abarca seu foco. Portanto, ao considerar uma Pessoa (que não é sujeito ou indivíduo) sempre se faz um recorte que, uma vez operado analiticamente, acarretará conseqüências longínquas e imprevisíveis.

Para o autor, o mais importante em Freud foi AmaZonar o campo: acolher tudo que havia disponível no campo psi – psicologias, psiquiatrias, neurologias e fisiologias –, recolher para dentro da psicanálise, e reutilizar promovendo sua redistribuição. Isto o leva a tomar as supostas novas ciências relativas ao psiquismo – terapias cognitivo-comportamentais, neurociências, ciências cognitivas, etc. – como inseridas no campo freudiano, sem o qual sequer teriam surgido.

Por isso, uma descoberta científica recente como a de que a linguagem falada surge de um entendimento sintático gerado pelos neurônios-espelho pode ser incluída na idéia de função catóptrica e na lógica do Revirão, cuja estrutura está presente na psicanálise desde os anos 1970. É esta produtiva troca de experiências com todos os campos de conhecimento que acompanhamos neste livro em que o laboratório da psicanálise se posiciona à altura de processar e intervir nos andamentos de ponta do mundo contemporâneo.


Sumário

1. 18 MAR
Psicanálise acolhe todos os saberes que considerem o Inconsciente – Pulsão: dualismo de função e monismo de última instância – Inconsciente enquanto campo de recepção plerômica – Postura do analista é de recepção total – Toda formação epistêmica é ideológica – Ideologia é formação sintomática de dominação – Novamente é secularização da psicanálise – Possibilidade de postura não ideológica – Crítica ao relativismo democrático e proposição de absolutismo diferocrático.

2. 25 MAR
Condição de a psicanálise acolher outras práticas – Critica à sobreposição dos sentidos filosófico e lingüístico no conceito de sujeito – Pessoa como pólo e sua constituição focal e franjal – Aproximação conceitual entre Pessoa e Rede – Ipseidade é marca da diferença – O Mundo sou Eu – A Cidade sou Eu como desdobramento da proposição O Mundo sou Eu – Conhecimento focal e franjal.

3. 08 ABR
Psicanálise AmaZônica – Poema Revirão, a mente perfeita – Relação entre psicanálise e gnose – Renascimento do pensamento gnóstico no mundo – Revirão gera toda a variedade de afetações e afecções.

4. 29 ABR
Os sete pecados capitais segundo Samuel Butler – Holokaos e o Quarto Império – Alegorias da Pessoa do Quarto Império: Macunaíma de Mário de Andrade, Ulrich de Robert Musil, Homem Com’Um de François Laruelle – Homem com’Um é IdioFormação – Ética da psicanálise é a ética do qualquer Um – Pessoa é nodulação do funcionamento originário com as resultantes primárias e secundárias – Função disjuntiva no Quarto Império – Oespírito é o Secundário reconhecido como paradigma de todas as formações.

5. 13 MAI
Abrangência do campo freudiano frente à restrição das ciências cognitivas – Produção AmaZônica de Duchamp – Razão absoluta da psicanálise frente ao relativismo do pensamento cientifico e filosófico – Os três absolutos da psicanálise: Impossível Absoluto (Ã), Cais Absoluto, Vínculo Absoluto.

6. 27 MAI
Apontamento para o Cais Absoluto na prática da Nova Psicanálise – Distinção entre Haver e Ser – Pessoa em sua condição de Haver e de Ser – Postura gnóstica segundo a Nova Psicanálise e segundo a Não-filosofia – A referência ao Haver submete todas as perspectivas de Ser.

7. 10 JUN
As pesquisas sobre neurônios-espelho – Contribuições de Wallon e Lorenz à tese do “estádio do espelho” de Lacan – Função catóptrica e a lógica do Revirão em MD Magno – Pesquisas sobre neurônios-espelho corroboram a tese de que o Revirão produz a linguagem – Experiência lingüística de evocar in praesentia e in absentia mostra o Revirão – Não há diferença entre natureza e cultura – Interdição relaciona-se com processo de recalque e não com passagem de natureza a cultura – Édipo como um exemplo de Princípio de Disjunção – Experiência de júbilo da criança no espelho é expressão da função catóptrica.

8. 08 JUL
Comentário do conto “O espelho”, de Machado de Assis – Distinção machadiana entre “alma exterior” e “alma interior” a partir da distinção entre Ser e Haver – Experiência literária de Machado de Assis descreve a aproximação do Cais Absoluto – Ser e Haver são a constituição de uma Pessoa – Para a Nova Psicanálise processo de análise é périplo da Pessoa em direção à indiferença originária – O que define a IdioFormação é a pura experiência de Haver.

9. 14 OUT
Dois sentidos para experiência de Haver – Ex-sistência das IdioFormações no mundo – ALEI é hybris – Movimento transcendental na produção do conhecimento – “Conhecimento é Formação resultante de uma transa entre Formações” – Vocação delirante do conhecimento – Distinção entre formações-gnômones e formações-gnomos na produção do conhecimento – Homotopia entre Kaos e ALEI – Diferocracia ou princípio de soberania das diferenças é gerada pelo Vínculo Absoluto.

Anexos:
Excertos da Oficina Clínica
, 1 a 10 
Crítica à inconsistência dos principais conceitos do lacanismo – Condição ficcional e biográfica de qualquer teoria – Suposição de um Princípio de Constância ao Haver –Questões sobre análise propedêutica, análise efetiva, formação do analista e indiferenciação – Razões para a interrupção do Falatório de 2006 – Recolocação do problema científico da psicanálise.

Os neurônios-espelho e a mente-espelho da Nova Psicanálise (Aristides Alonso)



Voltar